Assinar o contrato do FIES é um dos momentos mais importantes da vida acadêmica de quem decide cursar Medicina em uma instituição particular.
Afinal, trata-se de um compromisso financeiro de longo prazo, que pode se estender por mais de uma década, e que impacta diretamente sua vida pessoal e profissional mesmo após a formatura.
O curso de Medicina é um dos mais caros do ensino superior privado, e embora o FIES represente uma chance concreta de viabilizar esse sonho, nem sempre os estudantes têm clareza sobre o que estão assumindo ao firmar esse contrato.
Juros, prazos, carência, cláusulas específicas… todos esses pontos devem ser lidos com atenção e compreendidos antes de qualquer assinatura.
O contrato do FIES traz condições específicas para o curso de Medicina, com limites maiores de financiamento, mas também com regras detalhadas que precisam ser respeitadas.
Saber exatamente como funciona o pagamento, quando ele começa, quais os encargos envolvidos e quais são suas obrigações como estudante financiado é essencial para evitar surpresas lá na frente.
Neste artigo, você vai entender, ponto a ponto, como funciona o contrato do FIES para Medicina, incluindo os juros aplicados, os prazos de pagamento, as cláusulas mais importantes e o que acontece em caso de renegociação ou inadimplência. Tudo para que você assine com segurança e comece sua trajetória médica com o pé direito.
O FIES para Medicina tem juros?
Essa é, sem dúvida, uma das perguntas mais frequentes entre os estudantes que pretendem financiar o curso de Medicina: afinal, o FIES tem ou não tem juros?
A resposta depende da modalidade de financiamento contratada. Desde a reformulação do programa em 2018, o FIES passou a operar com diferentes faixas de condições, e o curso de Medicina pode estar vinculado a qualquer uma delas, desde que respeite os critérios de elegibilidade.
FIES Social: juros zero garantido
Na modalidade FIES Social, voltada a estudantes com renda familiar per capita de até meio salário mínimo e inscritos no CadÚnico, o contrato tem juros zero.
Isso significa que o estudante devolverá exatamente o valor financiado, sem acréscimos de taxa efetiva sobre o saldo devedor. Ainda assim, há coparticipações trimestrais durante o curso e outros encargos operacionais menores (como seguro).
FIES tradicional: juros reduzidos ou variáveis
No FIES tradicional, para estudantes com renda de até 3 salários mínimos per capita, podem existir:
- Juros simbólicos (baixíssimos), definidos de acordo com a renda;
- Ou até juros zero, dependendo da condição financeira do candidato e da oferta da instituição;
- Em contratos mais antigos, assinados antes de 2018, as taxas variam e podem incluir encargos maiores.
Mesmo quando há isenção de juros, é importante lembrar que existem custos operacionais fixos e a obrigatoriedade de coparticipação trimestral, geralmente no valor de até R$ 150 por trimestre durante o curso.
Taxas e encargos previstos no contrato
Apesar de o FIES, especialmente na modalidade Social, ser amplamente reconhecido por oferecer juros zero, isso não significa que o financiamento é isento de custos.
No contrato do FIES para Medicina, existem algumas taxas administrativas e encargos obrigatórios que o estudante precisa entender (e pagar) ao longo do curso.
Esses valores são estabelecidos no momento da assinatura do contrato e variam conforme a modalidade, banco contratado e data da adesão ao programa.
Coparticipação trimestral
Durante o período do curso, o estudante deve pagar, a cada três meses, um valor fixo chamado de encargo operacional ou coparticipação trimestral. Essa taxa serve para cobrir:
- Serviços administrativos;
- Seguro prestamista (em alguns contratos);
- Parte dos encargos operacionais do banco.
O valor gira em torno de R$ 150 por trimestre, mas pode variar levemente conforme o contrato e a instituição.
Taxa de abertura de crédito (quando aplicável)
Algumas instituições financeiras podem cobrar uma taxa de abertura de crédito (TAC). Essa taxa é única e geralmente aplicada no momento da liberação do financiamento.
Não é comum, mas é bom confirmar com o banco no ato da assinatura.
Taxas após a conclusão do curso
Após a formatura, quando o estudante entra na fase de amortização, o contrato passa a prever:
- Parcelas mensais proporcionais à renda (com teto de 10% da renda bruta, em regra);
- Encargos sobre o saldo devedor, quando houver aplicação de juros (caso do FIES tradicional).
Cuidado com o vencimento das obrigações
Mesmo com a mensalidade financiada, deixar de pagar os boletos trimestrais ou descumprir prazos pode resultar em:
- Multa por atraso;
- Suspensão temporária do contrato;
- Em casos mais graves, perda do financiamento.
Entender todas as taxas envolvidas, mesmo que simbólicas, ajuda a evitar surpresas e permite que o estudante se prepare financeiramente desde o início da graduação.
Existe carência para começar a pagar?
Sim, o contrato do FIES prevê um período de carência antes que o estudante comece a quitar o saldo devedor do financiamento.
Esse intervalo é especialmente importante para quem conclui o curso e ainda está em fase de transição para o mercado de trabalho, o que é comum na área da Medicina, considerando o tempo de formação e o início da residência médica.
No entanto, o prazo e as condições dessa carência podem variar de acordo com o tipo de contrato e o ano de adesão ao FIES.
Carência no FIES atual (após 2018)
Com as mudanças implementadas pelo Novo FIES, os contratos assinados a partir de 2018 oferecem um período de carência de até 18 meses após a conclusão do curso.
Durante esse tempo, o estudante não precisa iniciar o pagamento das parcelas do financiamento, o que permite maior fôlego para se estabilizar financeiramente.
Esse prazo é automático e está descrito no contrato. Após esse período, inicia-se a fase de amortização, com o pagamento mensal das parcelas proporcionais à renda.
E durante o curso, paga-se algo?
Sim. Embora a mensalidade seja financiada, o estudante é responsável pelo pagamento de:
- Boletos trimestrais (coparticipação);
- Encargos operacionais.
Portanto, durante a graduação, o pagamento é simbólico. O valor total só começa a ser devolvido após a formatura e o fim da carência.
Medicina: atenção ao tempo de graduação
Como o curso de Medicina tem duração maior que a maioria das graduações (em média 6 anos), o estudante passa mais tempo no período de financiamento. Por isso, é importante:
- Manter a matrícula ativa;
- Realizar o aditamento semestral;
- Controlar a quantidade de semestres financiados, já que há um limite por contrato.
Ou seja: sim, existe carência, mas ela não isenta o estudante de obrigações durante o curso. E, após a formatura, o planejamento para iniciar os pagamentos deve começar antes mesmo do fim desse período.
Prazos de pagamento do FIES
O contrato do FIES foi pensado para oferecer condições facilitadas de pagamento após a conclusão do curso, especialmente para estudantes de cursos longos e de alto custo, como Medicina.
O tempo que você terá para quitar sua dívida depende de dois fatores principais: o valor total financiado e sua renda no momento da amortização.
Quando o pagamento começa?
O pagamento das parcelas mensais começa após o término da carência, que geralmente é de 18 meses após a conclusão do curso.
Esse prazo é o mesmo tanto para o FIES tradicional quanto para o FIES Social.
Como são calculadas as parcelas?
As parcelas são definidas com base na renda bruta mensal do estudante. A regra geral é:
- O valor das prestações não pode ultrapassar 10% da sua renda;
- Se a renda estiver baixa ou instável, o valor das parcelas pode ser reduzido proporcionalmente.
Essa lógica busca evitar o endividamento do recém-formado, especialmente no início da carreira médica, quando a remuneração pode variar, por exemplo, durante residência médica ou atendimentos temporários.
Prazo total para quitar a dívida
Embora não haja um único modelo rígido, o prazo de amortização pode se estender por até 14 anos, a depender:
- Do valor total financiado;
- Da renda mensal declarada;
- Da forma de pagamento negociada com o banco no momento da contratação.
Em alguns contratos antigos (anteriores a 2018), o prazo pode ser fixo, independentemente da renda. Já nos contratos atuais, o modelo é mais flexível e ajustado ao perfil financeiro do egresso.
Importante: acompanhe seu saldo devedor
Durante a fase de amortização, o banco disponibiliza regularmente:
- Extratos do financiamento;
- Boletos mensais com vencimento fixo;
- Simulações de quitação antecipada (caso deseje antecipar parcelas).
Manter esse controle ajuda a evitar juros por atraso, além de permitir planejamento para antecipar pagamentos, se possível.
Cláusulas importantes no contrato do FIES
Além de juros e prazos, o contrato do FIES contém uma série de cláusulas que definem os direitos e deveres do estudante durante e após o curso.
Conhecer esses pontos com antecedência é essencial para evitar problemas futuros, especialmente em cursos longos e exigentes como Medicina.
Abaixo, destacamos as cláusulas mais relevantes que todo estudante deve observar ao assinar o contrato.
Fiador (quando exigido)
Alguns contratos, especialmente os do FIES tradicional, exigem a presença de um fiador, que será responsável legal caso o estudante não consiga pagar a dívida.
O fiador também precisa comprovar renda compatível e apresentar documentos durante a contratação.
No FIES Social, essa exigência costuma ser dispensada, mas é importante confirmar com o agente financeiro.
Trancamento ou abandono de curso
O contrato prevê regras claras sobre interrupção dos estudos:
- Se o aluno trancar a matrícula, o financiamento pode ser suspenso temporariamente;
- Se abandonar o curso, o financiamento é encerrado e o pagamento do saldo devedor é antecipado, iniciando imediatamente a fase de amortização.
Aditamento semestral obrigatório
Todo semestre, o estudante precisa confirmar junto à instituição de ensino que continua matriculado e em situação regular.
Esse processo se chama aditamento e é feito online, com suporte da faculdade.
O não aditamento pode suspender o repasse do financiamento e causar problemas com a continuidade do curso.
Inadimplência e negativação
O não pagamento das parcelas na fase de amortização pode levar à:
- Multa e juros por atraso;
- Inscrição do CPF em órgãos de proteção ao crédito;
- Execução judicial da dívida, em casos prolongados de inadimplência.
Mesmo durante o curso, deixar de pagar a coparticipação trimestral pode gerar bloqueio temporário do financiamento.
Essas cláusulas reforçam a importância de assinar o contrato com total clareza sobre as obrigações assumidas. O FIES é um excelente aliado, mas exige compromisso e responsabilidade.
Posso renegociar minha dívida com o FIES?
Sim, é possível renegociar a dívida do FIES, inclusive nos contratos do curso de Medicina.
Essa é uma alternativa importante para estudantes e ex-estudantes que, por algum motivo, estejam enfrentando dificuldades para manter os pagamentos em dia na fase de amortização.
A renegociação pode trazer parcelas menores, prazos mais longos ou até mesmo descontos, dependendo do tipo de contrato, da situação financeira do devedor e das campanhas ativas do Governo Federal.
Quem pode pedir a renegociação?
- Estudantes que estão em fase de amortização (após a conclusão do curso);
- Pessoas com parcelas em atraso ou em situação de inadimplência;
- Beneficiários com contratos firmados até 2017 (em campanhas anteriores, esses tiveram mais facilidades);
- Estudantes com contratos mais recentes, dependendo das políticas vigentes e do banco contratante.
Como funciona a renegociação?
A renegociação pode ser feita:
- Diretamente com o banco onde o contrato foi assinado (Caixa ou Banco do Brasil);
- Pela plataforma digital do banco, quando disponível;
- Através de campanhas nacionais de regularização promovidas pelo MEC.
Em alguns casos, o estudante pode conseguir:
- Descontos de até 99% nos juros e multas (para quem está inscrito no CadÚnico);
- Parcelamento da dívida em até 150 vezes;
- Redução no valor das prestações mensais.
Essas condições variam de acordo com a legislação vigente e precisam ser consultadas no momento da renegociação.
Renegociar é melhor do que deixar vencer
Ignorar os pagamentos pode levar à inscrição em órgãos de proteção ao crédito, bloqueios judiciais e perda da elegibilidade para programas futuros.
Portanto, renegociar é uma solução viável e menos onerosa, principalmente em casos de instabilidade na renda após a formatura.
Conclusão: Leia, entenda e planeje antes de assinar
O contrato do FIES para o curso de Medicina é, sem dúvida, uma oportunidade valiosa para quem sonha com a carreira médica, mas não tem condições de arcar com os custos de uma faculdade particular.
No entanto, ele também representa um compromisso financeiro real e de longo prazo, que exige atenção, responsabilidade e planejamento.
Mais do que saber se o FIES tem juros ou qual o prazo para começar a pagar, é fundamental compreender todas as cláusulas, encargos e obrigações envolvidas.
Durante o curso, é preciso manter os aditamentos em dia e honrar as coparticipações. Após a formatura, é hora de se organizar para começar a amortização da dívida de forma consciente.
Portanto, antes de assinar qualquer contrato:
- Leia tudo com atenção;
- Tire dúvidas com a instituição e o banco;
- Simule os pagamentos futuros com base na sua projeção de renda;
- E, se necessário, procure orientação jurídica ou financeira.
O FIES é um recurso que pode transformar vidas e viabilizar sonhos, desde que seja usado com sabedoria. Com informação e planejamento, você começa sua jornada na Medicina com os pés no chão e o olhar no futuro.